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Storytelling, uma nova jornada para a comunicação pública

Creio que ninguém goste de discursos, especialmente aqueles chatos, cansativos que se resumem a falar de números e outros aspectos técnicos.  As pessoas tendem a gostar bem mais de ouvir um conteúdo divertido, que faça sentido para ele e que, ao mesmo tempo, transmita uma mensagem importante.

Contar histórias sempre fascinou a humanidade, o enredo e as personagens interagindo com uma trama envolvente prendem a atenção das pessoas a ponto de ficarem horas a frente de uma tela “maratonando” séries ou assistindo filmes.  E quem não gosta?  Quem nunca se perdeu em uma boa história?

Pois é, então por que a comunicação pública precisa ser assim, burocrática, cansativa, sem muita criatividade?  No mundo corporativo os gestores já perceberam que vender algo com base em uma história bem contada é algo muito eficiente e, de longe, mais atrativo do que as estratégias tradicionais.  Empresas de todos os tamanhos vêm experimentando inserir técnicas de “contação” de histórias em suas campanhas a ponto de se desenvolver toda uma teoria sobre o que se chama de storytelling.

Andrea Fontana nos apresenta uma definição bem simples e compreensível do que seja storytelling:

“… pequenas histórias, narrativas curtas e compostas de profunda significação, para dar sentido a um determinado contexto, seja individual, uma ação coletiva, procurando analisar e representar eventos de forma acessível e agradável a um maior público”…  

Em outras palavras, podemos dizer que o storytelling é uma forma de comunicar utilizando como pano de fundo uma história que consiga relacionar o conteúdo com um enredo atrativo que torne a comunicação mais agradável, em especial para quem recebe.

Essa técnica, como já mencionado, vem sendo usada com certa eficácia no mundo dos negócios, especialmente em vendas e promoções em geral e pode, sem sombra de dúvida, ser inserida na comunicação pública.  Imaginemos um evento banal, uma agenda de um gestor público em um município qualquer, se ele simplesmente cumprir as formalidades do ato, possivelmente as pessoas que vão até lá para testemunhar, torcerão para que o evento acabe logo, contudo, se tudo for envolto em uma história, pode fazer com que se crie uma conexão entre o emissor e o público a ponto de tornar o ato inesquecível.

Mesmo nas comunicações diárias, informais nas redes sociais, uma pequena narrativa faz com que haja maior engajamento do público e com isso, aumenta-se o fluxo e melhoram as relações entre quem comunica e quem recebe essa comunicação.

Mas como toda técnica, ela tem seus truques e dicas como aconselha Talita Dantas, ao descrevê-las de maneira simples e direta na forma de passos.

  1. Ser nós mesmos – A primeira dica é que devemos ser nós mesmos, pois cada um tem uma maneira de perceber os fatos e de interpretar a situação e, da mesma forma, encontra um jeito próprio para descrever um fato ou uma situação. Aqui se percebe a importância da sensibilidade que o comunicador deve ter para que não seja interpretado como alguém que simplesmente esteja replicando o que outro já falou.  O tom de voz, a forma de escrever, as expressões utilizadas são muito peculiares conforme quem está narrando o fato!  Outra coisa importante é saber “onde” estamos e com quem estamos nos comunicando, a fim de garantir que o conteúdo seja realmente compreendido, especialmente quando nos comunicamos digitalmente.
  1. Definir objetivos e fornecer um contexto – primeiramente, é preciso ter claro o objetivo da comunicação, se é revelar um fato, anunciar, demonstrar algo, esclarecer, enfim, é preciso saber o que se quer e qual o resultado esperado. Em seguida, é preciso situar o público, fazer com que ele compreenda do que se trata e qual a importância do que está sendo comunicado e para isso é preciso compreender o público, seus costumes, sua cultura e suas expectativas, afinal, satisfazer expectativas é um grande desafio para qualquer gestor público.
  1. Inspirar-se na jornada do herói – a jornada do herói define um fluxo que geralmente inicia com alguém sendo forçado a deixar seu mundo, sua zona de conforto e partir em busca de um objetivo, vivendo a partir daí, uma aventura em um novo mundo, especial, cheio de novidades e desafios, mas com a ajuda de um mentor e alguns aliados ele se depara com um lugar especial, cheio de segredos onde ele é forçado a encarar os seus maiores medos. É nesse momento que o herói se depara com o seu maior desafio que o leva quase a destruição total que, por pouco não se realiza.  Ao se recuperar dessa experiência, ele parte de retorno ao seu mundo, porém dessa vez ele volta mudado, diferente e de possa daquilo que foi buscar.  Você também se lembrou da saga de “Frodo” nos filmes do Senhor dos Anéis?  É isso mesmo, é um ótimo exemplo da saga do herói.
  1. Contar as próprias histórias – use a imaginação e também as experiências vividas, se apoie naquilo que você conhece e que pode ilustrar a situação, afinal, é muito mais fácil falar sobre o que se conhece. Lembrar nomes, lugares e fatos relacionados à história e contextualizá-la para o objetivo de comunicação estabelecido é um ótimo caminho para um storytelling de sucesso.

Acha que acabou?  Na verdade existem mais alguns aspectos que devem ser considerados se optar em aplicar o storytelling na comunicação.  Eles são fundamentais para que, aliados aos passos vistos anteriormente, possam moldar um processo de comunicação eficiente.

Não se trata de uma fórmula, mas existem alguns pontos importantes a serem observados quando se pretende construir uma história envolvente.

Temos que definir um personagem envolvente, mesmo que ele não esteja explícito na história, pois podemos estar falando de nossas próprias experiências lembra?   Mas de qualquer forma ele estará lá, e se tratar de uma estratégia de marketing de conteúdo, por exemplo, ele estará ligado às personas identificadas, aos produtos ou serviços relacionados, ou aos órgãos que desejamos enfatizar.

É essencial que haja um conflito – lembre-se da saga do herói – é esse conflito que será superado para que se possa dar solução e se alcance o objetivo.  Seja a falta de recursos para uma obra, a necessidade de criar uma lei, ou mesmo a resistência de um grupo adversário, qualquer conflito precisa estar presente em uma boa história.

E então se pode pensar na resolução do problema.  O personagem deverá enfrentar o conflito e após muita luta e sacrifício, finalmente resolver o problema.  Essa resolução define se o objetivo foi ou não alcançado, se aquilo a que se dispôs a trabalhar valeu à pena e, para o público, é o que dará a dimensão da importância do conteúdo e a maneira muitas vezes heroica que foi resolvida.  Isso sem falar na compreensão do conteúdo, pois aqui é possível mostrar o quão importante é a participação efetiva de todos para a realização desse objetivo.

O storytelling pode ser utilizado para diversos tipos de conteúdo, sejam os informativos em que se recomenda o trabalho com dicas e recomendações, esclarecimentos e para a transmissão de boas ou más notícias.  Isso mesmo, até para dar uma notícia é possível se apoiar no storytelling!

Pode também ser utilizado para simplificar a vida das pessoas, como forma de serviço, para ajudar na resolução de um problema ou para estimular a adoção de algum programa ou projeto que vise à melhoria na qualidade de vida da população.  E claro, não poderia ficar de fora os conteúdos de entretenimento, com quiz, brincadeiras, performances e tudo aquilo que engaje e promova algum tipo de experiência para o público, em especial quando se está no momento de implementação de uma política pública, por exemplo.

Enfim, usar o storytelling pode ser uma excelente forma de criar vínculos com o público por meio de uma comunicação ágil, leve e de conteúdo, que faça com que um momento qualquer se torne especial, afinal, quem não gosta de uma boa história?