Qual o maior segredo para se tornar mais criativo na escrita?
Uma das coisas que gosto de fazer é acordar pela manhã com a consciência tranquila de que terei um dia produtivo porque planejei tudo, bem direitinho, no dia anterior.
Só que como a vida é cheia de incertezas, elas tomam conta do nosso dia a dia e acabam influenciando no nosso planejamento, nos tirando das rotinas previstas e, geram uma quantidade “ilimitada” de decisões a serem tomadas e problemas que precisam ser resolvidas. Não sei você… mas sempre que chego em casa após um dia atípico como este, ao tentar dormir, meu cérebro parece uma cena de abertura de loja em dia de Black Friday, tipo aquele momento onde os vendedores abrem as portas e vem aquela onda humana, sabe?
Com o tempo e o sofrimento, foi preciso desenvolver algumas técnicas para baixar a rotação antes de dormir, entre as que aprendi a utilizar quase que diariamente são a de me desconectar do mundo virtual, pelo menos uma hora antes, baixar as luzes do ambiente e respirar fundo algumas vezes logo depois de deitar. Tem dado certo, experimente!
Neste ponto da leitura você deve estar se perguntando “o texto não tem nada a ver com o título deste artigo”.
Como dito por Fausto Silva: “Erroooou”. A arte de escrever também pode ser exatamente assim.
Sempre que busco escrever alguma coisa, um artigo ou até um relatório, costumo ler alguns textos e, sendo possível, vídeos sobre o tema para analisar os diferentes pontos de vista e me preparar. Deixo o máximo de coisas prontas: anoto tudo que considero importante, escrevo um esqueleto do roteiro com as ideias principais. Com isso pronto eu começo a escrever, escrevo, reescrevo e, se existir esta palavra “rereescrevo”. Ao final, após algumas horas de edição final, sinto que não ficou legal, que falta alguma coisa. Ou seja… uma porcaria!
Recomeço o processo do início literalmente. Aprendi ao longo da minha carreira que para solucionar um problema precisamos compreender como ele é, qual a estrutura e quais são as causas raízes. Logo, o processo é revisto e mesmo tendo melhorado o texto, a sensação de que precisa dar mais uma lapidada aparece novamente. Aceito que o texto saiu, mas longe de ser perfeito. Lá se vai o meu Produto MRP (mais rápido possível).
O mais incrível é que, em contrapartida, tem dias que as ideias surgem de tal maneira que o texto saí como se estivesse sendo psicografado, sabe? Sem processo nenhum. Uma sequência lógica, texto bem escrito (com bastante letras sumidas por escrever rápido), mas com uma fluidez incrível. Cansei de anotar minhas ideias em pedaços de folhas usadas ou em guardanapos durante o café (hoje ando com um moleskini).
Agora, em 2021, resolvi retornar o estudo de copywriting, e aperfeiçoar a minha escrita. Estou fazendo um curso de storytelling onde o professor nos pede para escrever textos para diversas situações, inclusive utilizar roteiro de texto de vendas para colocar em relatórios que darão suporte à tomada de decisão e fazer o decisor “comprar” a sua ideia.
Mas, o que resolvi trazer aqui é a percepção de que tudo o que precisamos escrever tem relação com dores, desejos, problemas, anseios e cheio de objeções, tanto pra quem lê quanto para quem escreve.
Isso pode explicar a nossa relação com a escrita. Nossas feridas, nossas crenças, nossos pensamentos subconscientes possuem uma incrível quantidade de material que podem ser utilizados. Mas é difícil acessar esses lugares intelectualmente. Intelectualizar sua dor (“senti uma tristeza imensa”)… Por isso, que se usarmos a emoção para expressar o que estamos sentindo, entendendo ou explicando, tende a tornar o texto mais interessante.
Por exemplo: Existe uma grande diferença entre “eu sinto falta dele” com “todas as manhãs eu acordo, pego meu telefone e digito os números do telefone dele, mas, todas as manhãs, meu coração para quando lembro que meu pai não está mais lá”.
Esse jogo de palavras e de sentimentos deve servir como um coautor, uma “outra pessoa” que construirá com você o texto ideal, aquele que fará o seu setor ser percebido, receber o investimento necessário ou, simplesmente, permitir com que você seja ouvido.
Eis o grande segredo: Assim como para aprender a dirigir, você precisa dirigir, e para correr uma maratona precisa correr um quilômetro, você não pode ficar sentado esperando que a ideia apareça. Como escreveu a autora Anne Lamott:
“Para mim e para a maioria dos outros escritores que conheço, escrever não é arrebatador. Na verdade, a única maneira de conseguir escrever qualquer coisa é escrever primeiros rascunhos muito, muito ruins.”
Os primeiros rascunhos, os mais ridículos, são os primeiros passos dessa grande jornada. Talvez para você, ter um processo pode parecer antitético. E, talvez contrariando o ponto de Lamott, para mim e para muitos que precisam escrever com frequência escrever parece, pelo menos, ocasionalmente, algo atraente, admirável – só que quando se tem prazos, exigência de várias edições e guias de estilo (manual de redação), não existe muito espaço para planejar a caminho, não é? Então você aprende a deixar ir e sistematizar sua escrita.
Particularmente, acredito ainda, que há sim uma forma de ter os dois sistemas, o admirável e engessado: Usando a máxima do “menos é mais”.
Se seu trabalho existe muita construção textual é interessante você treinar com textos pequenos escritos em momentos de tédio. Use este tempo ao invés de ficar rolando o feed das redes sociais, vendo sites de fofoca ou buscando notícias que tiram sua energia. Qual a necessidade de se ficar contabilizando desastres?
Reforço que se você ficar parado esperando a criatividade aparecer, a ideia surgir, lamento informar jovem gafanhoto, isso jamais acontecerá. Se esperar a hora certa para fazer alguma coisa, certamente nunca fará nada.
No último encontro da mentoria que citei nos foi questionado o que fazíamos para fazer aflorar os nossos sentimentos para uma escrita persuasiva. Após diversos exemplos, muitos deles estranhos, chegamos à conclusão vai parecer óbvia para você: encontre uma atividade que permita que sua mente vagueie livremente. Para se ter ideia, um colega disse que estava funcionando no momento em que ele estava lavando a louça.
Pode ser que no seu caso esse insight criativo seja difícil de aparecer. Contudo, se me permite deixar uma estratégia, mantenha-se ativo, buscando sempre, pois, pior do que ele não aparecer, é você ter a chance de estar cara a cara com ele e não o perceber.