Comunicação vai além do discurso, é sentimento!
Como era fácil viver na época em que tínhamos três ou quatro canais de televisão e algumas rádios AM para nos manter informados!
O mundo era imenso e as notícias chegavam sempre atrasadas, fazendo com que os atentados no Oriente Médio ou o terremoto no Japão fossem algo distante e que não teriam nada a ver com o Brasil.
A transmissão, “ao vivo”, da primeira guerra do Golfo em 1991, foi um marco para as comunicações, pois foi a primeira vez que presenciamos um fato de imensa relevância acontecer em tempo real. Uma década depois, podemos assistir atônitos pela TV a queda das torres do “World Trade Center”, no exato momento em que elas foram ao chão. Como se vê, as coisas mudaram e, agora, qualquer pessoa com um telefone celular conectado à internet, tornou-se um potencial transmissor de notícias e propagador de ideias em tempo real, e isso nem nos surpreende mais.
A importância de compreender os processos comunicacionais em um mundo conectado e de “pouco tempo” é o grande desafio de gestores públicos, tanto quanto o é dos gestores de empresas privadas. A nova era da informação redefiniu o que deve e como deve ser comunicado e ainda estipulou que alguns veículos são relevantes e outros não, dependendo do público a ser atingido.
Uma assessoria de comunicação deixou de ser meramente “jornalística”, ou seja, transmissora de fatos e notícias, para se tornar uma verdadeira estratégia completa de comunicação, envolvendo aspectos de jornalismo, relações públicas e, em especial, de marketing. Sim, de marketing, afinal o gestor público, mesmo que seja um técnico de carreira, é responsável por promover (não só no sentido de prestar contas) os serviços que um agente político definiu e vem prestando em nome da população e, nesse aspecto, não basta simplesmente relatar o que foi feito, eles têm a importante missão de transmitir a ideia por trás de cada administração, qual o espírito, a “cara” de cada gestor e o que marca a sua gestão.
Cada mensagem deve conter a essência do que significa cada ação, cada conteúdo deve ser coerente com a linha de ação que o gestor público definiu em seu plano e dessa forma, o responsável pela comunicação deve ser alguém capaz de extrair essa essência e transformá-la em algo que tenha significado para o público.
Uma forma adequada de transmitir uma ideia de maneira eficaz é a adoção de mensagens vinculadas ao conceito de uma “ideia-força”.
Uma ideia-força pode ser definida como um fator de coesão, que represente a parte mais importante, essencial da mensagem. Geralmente o slogan de uma instituição é definido com base em uma ideia-força!
E como saber qual é a “ideia-força” da mensagem? A resposta é simples, porém não é fácil, pois em resumo é ter clara qual é a mensagem realmente importante que se deseja transmitir, pois, às vezes, o que se quer demonstrar vai além do fato em si. A inauguração de uma obra pode ter uma mensagem muito mais importante que a obra em si, talvez seja o cumprimento de uma promessa de campanha ou a concretização de um sonho daquela comunidade. Enfim, extrair a essência da mensagem exige conhecer a fundo o que se passa na mente do gestor e quais são os seus desejos ao se comunicar com o público.
A comunicação é um aspecto fundamental nas estratégias de gestão, em especial nas estratégias de marketing, contudo a comunicação precisa ser eficaz e para isso ela exige uma série de atributos definidos em etapas, como afirma Phillip Kotler:
“O desenvolvimento de uma comunicação eficaz abrange as seguintes etapas: identificar o público-alvo, determinar os objetivos de comunicação, elaborar a mensagem, selecionar os canais de comunicação, medir os resultados da comunicação e gerenciar o processo…”
Identificar o público-alvo é o primeiro passo, pois definirá a linguagem a ser utilizada e a forma de transmissão mais adequada. No caso da comunicação pública, temos a tendência de acreditar que toda a sociedade é alvo das mensagens, contudo isso nem sempre é verdadeiro. É fundamental conhecer aqueles que se interessam pelos conteúdos e também saber a quem desejamos que esse conteúdo alcance e o que motiva esse público a se interessar pelo conteúdo.
Definido o público, concentra-se nos objetivos da comunicação e mais uma vez nos remeteremos a “ideia-força”, a essência do conteúdo e o que realmente se deseja transmitir àquele público que pretendemos alcançar, pois quando chega o momento de elaborar a mensagem, todos os aspectos anteriores devem ser considerados e alinhados no conteúdo, da mesma forma que se precisa considerar a linguagem adequada e o canal propício para transmitir a mensagem e atingir em cheio o público alvo.
E como atingir o público-alvo? A resposta começa pela seleção dos canais de comunicação adequados. Cada público tem uma característica cultural, social, etária e até mesmo regional que define como preferem receber essa mensagem. Pessoas mais jovens tendem a estar mais conectadas as redes sociais, enquanto pessoas mais velhas e do interior, por exemplo, podem ainda depender de outros meios, como o rádio, para se manterem atualizados. Sem esquecer que ainda não podemos menosprezar o alcance da televisão, afinal, conforme pesquisa IBOPE realizada em 2018, um total de 46% das pessoas assistem televisão e utilizam a internet ao mesmo tempo.
Outro meio de comunicação que não pode ser desprezado é o rádio que, muito embora esteja disputando com os atuais “podcasts” ainda é um importante meio de comunicação, sobretudo da comunicação publicitária.
Contudo, os profissionais de comunicação devem sim, dar especial atenção às mídias sociais, pois são os principais canais de divulgação.
Segundo a pesquisa Social Media Trends 2019, os principais benefícios que as mídias sociais trouxeram para empresas brasileiras são:
Divulgação da marca – 53%
Engajamento com a audiência – 44,2%
Aumento de vendas e números de clientes – 38,1%
Aumento de tráfego no blog/site – 35%
Ainda, segundo a mesma pesquisa, o Facebook e o Instagram lideram o ranking das redes sociais, seguidos pelo Linkedin e logo atrás o YouTube!
É importante ressaltar que esses dados são de pesquisas realizadas em 2018 e 2019, ou seja, antes da pandemia que jogou muitos para o home office e que certamente já alterou significativamente esses índices para cima.
O gerenciamento de todo esse processo pode ser verificado por meio do feedback que se realiza acompanhando o engajamento do público junto ao conteúdo, em especial, quando ocorre nos meios de comunicação online que permitem a utilização de métricas sem a necessidade da contratação de pesquisas, como ocorre nos meios tradicionais.
A utilização da ideia-força como estratégia comunicacional não difere das estratégias tradicionais, contudo, ela deixa explícita a noção de que dentro de uma mensagem, existe um núcleo que forma uma coesão entre o receptor e o emissor, uma convergência que leva ao essencial, aquilo que está por trás da mensagem, em outras palavras, o que realmente precisa ser compreendido.
Em outras palavras, quando se dirige ao público, o gestor tem que transmitir o fato concreto mais o significado do ato, sempre relacionando com o espírito da gestão, do órgão ou da campanha, pois uma obra qualquer um pode inaugurar, mas o que ela significa, poucos podem ter compreendido.
Trabalhar comunicação na era digital exige muito mais do que capacidade, exige uma sensibilidade muito intensa do profissional que, se por um lado precisa saber como produzir conteúdo, tem que compreender o público e, principalmente, compreender que é necessário ousar, fugir dos clichês e arriscar navegar pelas tecnologias disponíveis.