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Artigo 05 – Salto para Inovação

Desde 1994 atuo na área de tecnologia e felizmente pude participar de muitas transformações no setor público, mas nada é comparável ao que estamos experimentando neste momento. A intenção deste artigo, que escrevo para o público do NIDUS, não é esmiuçar conceitos ou teorias, mas sim compilar algumas ideias sobre inovação e burocracia.

Sabe-se que no dialeto do inovador as palavras coragem, riscos, erros e agilidade são utilizadas com muita frequência. Numa visão tradicional de governo, em grande medida legalista (no qual muitas vezes os meios são mais importantes do que os resultados) temos a receita para a contraposição de todo movimento inovador. Falta-nos coragem para tentar fazer diferente, pois estamos submetidos a regulamentos de outra era. Somos julgados por órgãos de controle, nos quais não encontramos espaço para discussão sobre métodos inovadores. Em nossas instituições os ritos burocráticos consomem nossa capacidade de resolver os problemas de forma ágil.

Essa realidade, contraposta aos conceitos do chamado Governo 4.0, faz com que todos os dias ainda estejamos mergulhados em rotinas repetitivas e de baixo valor agregado. Desperdiçamos milhares de horas, de preciosa capacidade intelectual dos servidores públicos, em tramitações de processos, conferências documentais e controles dos mais variados. Passamos mais um tanto de horas dando conta de perpetuação do modelo hierárquico de decisão, com a absoluta falta de bom senso dos tecnocratas de carteirinha, que “garantem” a legalidade do processo, mesmo que seu objetivo não faça o menor sentido.

É fato que as evoluções tecnológicas e de gestão impulsionam as transformações do governo, mas sãos as pessoas que precisam mudar para aproveitar toda a potencialidade colocada a nossa disposição. Os conceitos de gestão ágil, de inovação em governo, de governo centrado no cidadão, de governo como plataforma, de governo orientado por dados, da personalização de serviços digitais, estão entre os tópicos mais debatidos entre os que militam na fronteira da transformação digital. Será necessário lubrificar a velha máquina estatal com esses conceitos para empurrá-la na direção do futuro.

Retornando as palavras chaves deste artigo (coragem, riscos, erros e agilidade), fica aqui o que penso sobre elas. Coragem e até certa dose de rebeldia é o que espero de todo servidor público. Coragem para encarar os desafios não triviais que certamente se apresentarão. Coragem para expor pontos de vistas diferentes. Coragem para andar no limiar da suposta legalidade e, sobretudo, coragem para discutir sobre novos arranjos para resolução dos problemas.

Sobre riscos, desejo que sejamos tolerantes a eles e que consigamos estabelecer uma dinâmica na qual arriscar-se na esfera pública não caracterize um comportamento irresponsável e reprovável do ponto de vista de uso dos recursos públicos. Esse desafio é complexo e pressupõe debate e esclarecimento. Estejamos prontos para isso!

Sobre lidar com erros é importante frisar que se trata de condição fundamental para inovação. É senso comum que não existe inovação sem histórico de tentativas e erros. Nosso principal desafio é “convencer” os órgãos de controle que não sairemos do lugar, caso não separemos os erros culposos dos dolosos, em prol da inovação. Não queremos anistia, mas queremos um tratamento diferente para projetos inovadores.

Por fim ao pensarmos em agilidade é nossa missão encharcar nossas discussões com práticas a muito tempo utilizadas pela iniciativa privada. Métodos ágeis em substituição dos manuais e formulários, OKRs (Objectives and Key Results) em substituição aos planejamentos estratégicos, CFRs (Conversa, Feedback, Reconhecimento) em substituição às avaliações de desempenho, horizontalização e colaboração em substituição à hierarquia e controle interno.

Os inovadores não podem perder seu entusiasmo. Somos portadores de um sentimento que é vibrante, mas que por vezes acaba sufocado pelo legado organizacional. Não há o que temer, pois a causa é nobre e o futuro nos apresenta um cenário animador. Tenho convicção que o governo que deixarei para meus filhos será muito melhor do que encontrei em 1994.