Artigo 04 – Dos tabuleiros à necessidade de empreender. Uma conversa com provocações aos servidores públicos
Dos tabuleiros à necessidade de empreender. Uma conversa com provocações aos servidores públicos
A primeira coisa que você precisa saber sobre este texto é que ele tem um viés liberal em sua essência e que não é técnico. No entanto, não o abandone! A proposta é trazer algumas reflexões aos servidores sobre o uso de seu tempo, seu dinheiro e também algumas provocações que veremos adiante.
No último artigo sobre gestão de videoconferências (que em tese não tem grandes relações com este), disse que eu era um jogador de tabuleiros e procurava a melhor opção disponível nos lances e também nas decisões sobre reuniões virtuais. Pois bem, foi entre uma partida e outra de um jogo desses, acompanhado de amigos servidores públicos que discutíamos sobre a profissão de cada um, seus desafios e remuneração.
Na ocasião estávamos em 05 – um militar, outro analista de TI, dois técnicos administrativos de universidades, uma federal e outra estadual e o quinto elemento, trabalhador da iniciativa privada. Cada um começou a relatar suas atribuições, sua jornada de trabalho e, brevemente, seus desafios financeiros.
Entre conversa pra lá, pra cá, curiosidades e risadas de histórias de cada ambiente de trabalho, uma coisa era comum em todos os servidores públicos: sua remuneração não era suficiente ou estava aquém do desejado. E isso entre pessoas de diferentes órgãos, carreiras de técnico ou analista, estadual, federal ou empresa pública. Pessoalmente isso me chamou a atenção e comecei a fazer provocações aos meus colegas.
Os relatos individuais seguiam outros consensos, de que o último reajuste salarial aconteceu há tempos ou que veio muito enxuto, que não acompanhou a inflação, que as discussões por reposição não avançavam e toda essa história que o servidor público ou o cidadão comum já conhece, seja por notícias diárias ou outdoors de classes que sempre estão espalhados pelas cidades. Detalhe que o amigo não servidor olhava incrédulo, já que supostamente os outros estavam em uma posição bem mais confortável que a sua.
A conversa seguiu e os servidores tinham outra coisa em comum: a maioria trabalhava em horário de expediente de segunda à sexta, naquele horário padrão pós almoço até o final do dia, pelas 19h. Ou seja, dispunham de certo tempo livre em suas vidas pessoais, e podiam fazer outras coisas como estudar, praticar atividades físicas, cuidar das suas famílias ou ainda empreender.
E foi justamente nesse tópico que surgiram as diferenças naquela mesa e é a grande chamada do artigo: os amigos servidores mais bem sucedidos eram os que aproveitavam seu tempo livre para empreender/investir e gerar novas rendas para si e pros seus.
E tinha um pouco de cada coisa – aluguel de apartamento, aluguel de diária no airbnb de imóvel da família, investimento em ações, em milhas, ajuda no negócio da esposa, compra e venda na internet e algumas expectativas de novos projetos, em especial os digitais.
Esses servidores alcançavam maior sucesso e independência não apenas com sua renda advinda do serviço público, mas também por meio dela. Usavam seu tempo livre, seu capital regular, facilidade de crédito e outros para potencializar uma ação empreendedora sua para gerar riqueza.
E é aqui que volto ao primeiro parágrafo desse artigo – sobre possuir um viés liberal -, pois é a partir do interesse pessoal, ao arriscar seu capital e patrimônio, gastar seu tempo e energia que o indivíduo gera renda, novas oportunidades e com isso pode ter mais acesso a bens de consumo, lazer, tratamentos e, consequentemente, viver melhor.
Não se engane que isso vale somente para os servidores da base, essa chamada é para qualquer nível de servidor, mesmo os com os maiores salários, acima de dois dígitos. Certamente a maioria quer ampliar sua renda e opções e ter uma vida mais confortável, isso quando não é uma necessidade.
Para reforçar esse debate, provocar você, meu colega servidor e sair da volta do tabuleiro, é sabido que os Estados e Municípios brasileiros estão sempre no limite da Lei de Responsabilidade Fiscal – LRF, que permite um valor máximo de comprometimento da receita líquida com folha de pagamento. Se fizer uma busca rápida sobre o tema no google, encontrará inúmeros artigos e matérias que trazem esse alerta e relatam os problemas financeiros dos Estados.
Somado a isso está a questão previdenciária, que consome boa parte desse percentual da cota máxima de gasto com folha de pagamento. Outro detalhe importante é que a palavra previdência sempre vem acompanhada de outra, déficit. Como então será possível ao gestor propiciar aumentos significativos sem estourar o teto da LRF ou sua previdência já deficitária?
A resposta inicial é: dificilmente será possível.
Com isso, não convém apenas torcer e contar com um boom econômico de arrecadação ou ainda esperar por reformas profundas e excepcionais que tornem as previdências sustentáveis e com isso uma possibilidade de ter seu sonhado aumento salarial.
A realidade é dura e muito distante disso, seguiremos com aumentos tímidos, até pela impossibilidade financeira dos Estados, e com nosso poder de compra reduzido ano a ano.
São necessárias, portanto, ações propositivas por parte dos servidores. Entre elas, como apontada nessa conversa na volta do tabuleiro são as de investir e empreender, aproveitando seu tempo livre, capital e energia. As tecnicidades, permissões e limitações do servidor público empreender ou não, é regulamentada em cada carreira e deixo a resposta para os estudiosos de direito administrativo, contadores ou até para outra publicação.
Fica o convite e a provocação.
Ah, e o amigo da iniciativa privada? Está rindo desse texto e achando que servidor público tem é vantagens demais…