Artigo 01 – Inovar no setor público – troque o pneu com o carro andando
Quando reflito sobre aquilo que gostaria de fazer no meu setor, na minha Diretoria, na minha Secretaria, penso que não seria possível, que não existe recurso disponível para o que é necessário ser feito.
E talvez, não haja recurso mesmo, ou precisaríamos de mais 30 pessoas para alcançarmos alguma meta imprescindível para o bom andamento do serviço público.
Mas, e se parássemos, por um dia e escolhêssemos um único processo/tarefa que nos ocupa o dia, que demanda muito recurso, e tentássemos alterá-lo, o que você mudaria?
Essa é a lógica de trocar o pneu do carro com ele andando: o serviço público não pode parar, é preciso continuar entregando para o cidadão, todos os dias, um serviço de qualidade, que não onere os cofres públicos e facilite suas vidas.
Melhorar o desempenho do setor público é um dos principais objetivos dos governos em todo o mundo e a inovação no serviço público se dá, sobretudo, no desenvolvimento dos servidores, das políticas; na elaboração de programas e não de máquinas, tornando-os mais direcionados, mais responsivos às necessidades do cidadão e mais eficientes.
Tecnologia e Inovação só fazem sentido quando se é capaz de mudar a relação entre Estado e Cidadãos e, nos últimos anos, a sociedade está cada vez mais atraída para o movimento de controle social e exigência de bons serviços públicos. E, com isso, as entidades públicas precisam evoluir, reinventarem-se para atender as necessidades e os interesses do povo, visto que esta é a principal finalidade do Estado.
E como poderíamos iniciar um processo de inovação e melhoria de processos dentro do nosso Setor? Qual seria o ponto de partida, os preceitos básicos para visualização dos resultados e melhoria contínua do setor público para servir ao Cidadão?
Não tratarei aqui das ferramentas, tecnologias avançadas ou, ainda, que é preciso muito recurso para isso. Vamos começar pelo mais simples, aquilo que conseguimos mudar hoje.
São três as iniciativas individuais, que provocam a mudança no todo.
Sensibilizar as pessoas
Sim, eu sei, todos falam disso, mudar a cultura organizacional, mudança de mindset, mas pare de pensar nos outros. O que você mudaria na sua conduta? O que você faria diferente? Como conseguiria ser mais inovador?
Para pensarmos em sensibilizar as pessoas do nosso setor, da nossa Diretoria ou Secretaria, devemos começar pelo exemplo que transmitimos aos que estão a nossa volta, vamos inspirar pessoas.
Não quero que pense esse tópico como uma autoajuda, mas uma maneira de rever os nossos hábitos enquanto servidores públicos, recebemos muitos “nãos”, os recursos são escassos e sempre existem atividades mais importantes do que aquelas que gostaríamos de fazer.
Aí que que mora a mudança. Ser inovador não significa fazer coisas mirabolantes, caras ou tecnológicas, significa dar o primeiro passo, pensar e fazer algo não pensado/tentado antes.
Inovar, portanto, aborda a criação, implementação e difusão de novos processos, produtos, serviços ou formas de entrega que resultam em significativa melhora na eficiência, eficácia e qualidade dos serviços prestados.
Ok, ok, mas como faço isso?
Sabe aquela máxima, um passo de cada vez? Pois bem, é isso que você fará: pense grande, comece pequeno e cresça rápido!
Isso significa que você deve saber tudo que deseja fazer: estabeleça um cronograma, metas bem definidas, defina um ponto de partida e pode começar por aquilo que tem mais domínio ou pelo que tem menos facilidade, mas comece.
Uma sugestão muito simples é: defina sua rotina atual no trabalho, escreva mesmo, depois separe o que lhe dá mais e menos prazer em realizar. Feito isso, escolha uma rotina (qualquer uma, fácil ou difícil) e proponha uma mudança, corte o cordão umbilical da antiga administração pública, estabeleça se você quer mudar totalmente a rotina ou apenas melhorá-la, promova a inovação, seja ela disruptiva ou incremental.
Osborne e Brown (2005) defendem que a inovação introduz novos elementos em um serviço público, sejam novos conhecimentos, nova organização e/ou novas formas de gestão ou processos.
A sua mudança de hábito impactará diretamente no comportamento e padrões até então adotados pelo seu círculo de trabalho, o que gerará um círculo virtuoso, em que, todos enxergam a mudança como algo positivo, que melhora e se desenvolve a cada ação realizada/implantada.
Nesse contexto da Nova Governança Pública, inovar em serviço público exige a capacidade de coproduzir e cocriar. Ou seja, este paradigma prevê a ampliação da maneira como nos relacionamos com nossos colegas de trabalho. Não se trata de uma competição para uma posição melhor, mas a união de forças para melhorar prestação do serviço público.
Capacite-se
A mudança deve ser acompanhada de capacitação: não é possível ter conhecimento de novos métodos, ferramentas ou adquirir novas competências ou utilizar novas abordagens de trabalho sem conhecê-las.
Sei que você pode dizer: não tenho tempo para estudar, não vou receber nada a mais por isso ou então, não vai mudar nada no meu trabalho.
Vou começar por uma frase que escuto muito: “isso não vai mudar nada no trabalho que desempenho”
A primeira coisa para ser inovador em qualquer âmbito é querer sempre aprender coisas novas, independente onde você irá usar, mas prometo que uma hora você vai usar.
Pode ser um novo esporte, uma nova língua, um curso de culinária, usar uma nova ferramenta de trabalho, um novo app, qualquer coisa. Isso envolve principalmente comprometimento, disciplina, conexão com pessoas, ou seja, tudo que pode ser aplicado no seu trabalho!
Outra frase comum é: não serei remunerado a mais por isso. Talvez hoje, de fato, não, mas se, em um futuro precisarem de alguém com sua especialidade para lecionar um curso ou ocupar um cargo? Seria sorte ou você já estaria preparado?
E a última frase clássica para tudo nessa vida: não tenho tempo!!
Sim, nossas vidas são corridas, trabalho, filhos, casa, escola, mas também quem quer arranja tempo. Pense nisso como um investimento, não só na sua carreira, mas para sua saúde, sua sanidade e sua evolução cognitiva. Ou você quer ficar estagnado?
Sempre penso como seria se eu trabalhasse na iniciativa privada, em como eu teria que me manter sempre atualizada ou capacitada para todas as demandas que surgissem. Por que que no setor público não pode ser da mesma maneira?
Não devemos ficar preguiçosos e acomodados, afinal, aceitamos os termos deste trabalho (bons e ruins), então devemos honrá-lo e fazer da melhor maneira possível, para servir ao cidadãos, os quais também estamos incluídos.
Sou triatleta, além de servidora pública, esposa, dona de casa, faxineira, cozinheira e mãe. Sim faço tudo, como todas as outras pessoas, mas como organizar os 6 treinos por semana para realizar um ironman (ou seja, se não treino, morro na praia) com todos os outros afazeres, e ainda me capacitar? Saiba que eu consigo!
Entenda que capacitar não é somente voltar a sentar em uma sala de aula, ficar um período inteiro dedicado exclusivamente àquilo. Com o isolamento social, descobrimos novas maneiras de adquirir conhecimento, existe uma infinidade de cursos (de longa ou curta duração), webniars, bate-papos on line, artigos científicos, livros e etc.
Novamente: estabeleça uma rotina, comece com um tempo reduzido, sem distrações, mas comece.
Entenda que você não precisa se tornar especialista em tudo, mas que você deve conhecer novos pontos de vista, para que você saiba dialogar sobre temas diferenciados e, acredite, logo surgiram novos insights de atividades que você poderia desenvolver, utilizando os conhecimentos adquiridos e que são aplicáveis ao seu trabalho.
Estabeleça Conexões
Talvez esse seja o tópico mais importante de hoje: “me diga com quem andas que te direi com quem és”!
As conexões que estabelecemos ao longo a vida, sejam familiares, amorosas, de amizade ou no trabalho, são muito poderosas, e são capazes de definir o nosso comportamento e atitudes, repercutindo em todos que estão a nossa volta.
Um comportamento bom ou ruim compromete toda uma cadeia de conexões. Vamos pensar em um ambiente de trabalho: todos os dias você troca informações com um colega, para realizar uma demanda de maneira colaborativa. No entanto, esse colega utiliza essa informação de maneira inadequada. Qual será sua atitude?
Geralmente paramos de compartilhar e confiar neste colega ou cortamos a relação com ele e a não trabalhar mais em conjunto.
Para quebrarmos esse ciclo, novamente devemos partir de nós mesmos e não nos frustrarmos quando outro não age da mesma maneira, mas investir para que ele melhore seu comportamento, oferecendo ajuda e oportunidade de mudança. Talvez o círculo em que essa pessoa viveu até agora fazia com que ele agisse desta maneira, o que não permitiu que conhecesse outra forma de agir.
Adote uma atitude colaborativa, seja no trabalho, em casa, com seu parceiro, com filhos, pense sempre que você pertence a um time: meu conhecimento com o seu, irão mais longe e mais rápido.
Para você estabelecer conexões sólidas e duradouras, esteja disposto a oferecer algo também, algo verdadeiro. Disponha-se a ouvir mais e ajudar de alguma forma. Agregue valor para as pessoas, isso significa também criar referência, e ser referência é uma excelente maneira de consolidar conexões.
Outro lado das conexões conhecido como networking, que nada mais é do que sua rede de relacionamentos, é composta por diferentes perfis de pessoas, desde a família, amigos e colegas da faculdade, do trabalho, e pessoas fora do seu campo de atuação, mas têm interesses em comum e que você estabeleceu a conexão voluntariamente.
Traduzido do inglês, Networking é uma atividade por meio da qual pessoas se reúnem para formar relacionamentos profissionais e reconhecer, criar ou agir sobre oportunidades de negócios, compartilhar informações e buscar parceiros em potencial para as mais diversas áreas.
Apesar de tentarmos nos capacitar sempre, não somos e nem precisamos ser experts em tudo, mas podemos estabelecer algumas conexões que nos auxiliam em alguma demanda, por meio da trocar de experiências e informações, que potencializam e promovem oportunidades.
A participação em cursos, reuniões, atividades fora do seu convívio habitual, são ótimas oportunidades de estabelecer essas conexões.
Exemplo disso é o Nidus. De que maneira podemos acelerar e transformar o setor público em uma entidade mais ágil e mais eficiente? Existem várias maneiras: a forma adotada pelo Nidus foi se inserir em uma ambiente tecnológico, até então pouco frequentado pelo setor público, para que possamos aprender com o ecossistema de inovação e as startups, ou seja, fazer parte desse grupo, ser ouvido, colaborar e desenvolver novas parcerias.
A principal lição que gostaria de deixar aqui registrada é a seguinte: não devemos ter medo de inovar e apostar nas mudanças, pois essas mudanças que direcionam a gestão pública para resultados promissores.
Nós, servidores públicos, precisamos assumir essa responsabilidade, e cultivar nos nossos atos e para o nosso ambiente de trabalho a cultura da qualidade de serviço que estamos prestando. Precisamos ter orgulho daquilo que entregamos ao cidadão: caso contrário, há algo errado no nosso desempenho.
Agora a tia vai parar de dar lição e recapitular:
Para inovar, comece por você: não tente mudar os outros se você não é capaz de fazer isso com você mesmo.
Estude, estamos na era da informação, tudo está literalmente na palma da sua mão, além disso, você deve saber que o seu cérebro faz uma infinidade de sinapses e conexões para realizar determinada ação, e cada vez que faz isso, você pode aumenta sua capacidade de aprender, ativa o poder de concentração, e quanto mais estudarmos e exercitarmos o cérebro, mais protegido ele estará de doenças de degeneração, como o mal de Alzheimer, por exemplo.
E, por fim, estabeleça conexões de qualidade, que somem ao seu desempenho, que agreguem desenvolvimento e te façam evoluir, que despertem o melhor de você e seja a motivação que alguém procura: colabore e coopere, sempre que puder.
E, principalmente, lembre-se: você é o trabalhador e cliente da empresa, não ofereça um serviço ruim para você mesmo.